A SERRALHARIA DE CARNIDE ESTÁ DE SAÍDA!
A N.Silva Soc. Unipes. Ldª - Serralharia civil é talvez a ultima oficina do velho Carnide ainda em laboração e que se muda, depois de muitos anos de actividade. É um processo corrente em
Lisboa, a “deslocalização de empresas”, em que da
capital sai tudo o que são fabricas e oficinas para
a periferia, obrigando-nos a procurar longe o que
dantes estava ao pé da porta e nos é útil na hora
precisa.
Manuel Augusto Gomes, natural do concelho
de Vinhais, hoje com 62 anos, começou aos 14
anos: «Gosto do meu trabalho, para onde vim
para ganhar mais. Se tivesse de começar de novo
voltava a ser serralheiro, que é uma arte tão difícil
e hábil como a de carpinteiro de limpos, dizem.
Trabalho a serralharia em alumínio, ferro, aço
inox, latão e cromados. Entrei aqui em 1964 como
ajudante de serralheiro na oficina que era do Sr.
João Marques Jordão, que já aqui existia há muito
mais tempo, creio que desde 1935, talvez... Eu
vinha da Serralharia da Baixa onde ganhava 7$50
por semana e aqui vim ganhar 20$00 por semana!
Mais do dobro! Trabalhavam aqui umas 15 a 20
pessoas, a fazer carrinhos de mão que seguiam
para a madeira e para os Açores, às centenas: era
o pátio todo cheio de filas de carrinhos! Depois
eram as marquises e estruturas metálicas para
prédios, em ferro e a partir de 1965, 1966, em
alumínio. Com o 25 Abril a actividade abrandou
mas nos anos 80 lá retomou em força. Eu saí para
trabalhar como encarregado numa serralharia em
Campolide e depois em Alcântara e em 1978 voltei
para aqui para tomar a firma ao Sr.Jordão que
entretanto se reformou. Foi uma época a fornecer
estantes, armários, expositores, prateleiras,
carrinhos em metal para os supermercados,
actividade que ainda hoje continua e faço a
manutenção: trabalhei para o antigo Carrefour,
para o Jumbo de Alferragide, Pingo Doce, o que
dava trabalho para 25 pessoas, aqui. Fiz melhorias
neste espaço, criando vestiários e balneários novos
com água quente e fria. Antes íamos ao Carnide
Clube tomar duche de água quente ao sábado e os
outros dias era duche frio diário pois este trabalho
suja muito. O maior trabalho que tive foi fornecer
o Centro Comercial da Portela em tudo o que era
serralharia metálica de alto a baixo. Outro grande
fornecimento foi os gradeamentos para o edificio
da EDP na av. EUA frente à av. Rio de Janeiro. As
obras mais bonitas foram as escadas trabalhadas
em vigamentos para o Instituto N. de Seguros
e umas escadas cromadas para a Casa Africana.
Fazia madrugadas se fosse preciso e passava mais
tempo aqui do que em casa. Trabalhei para o
antigo Crédito Predial, forneci agências bancárias
em todo o país. A EDCA também foi fornecido
por mim. Hoje tenho ainda como clientes a FNAC
Colombo, a Bertrand, etc.. Em 2005 a actividade
começou a decair. Hoje muita das portas, estantes
e até fechaduras vêm prontas de Espanha para os
novos supermercados e centros comerciais e não
têm reparação, são substituídos se avariam.». E é
um profissional sem mágoa mas com segurança e
experiência que assim fala, nesta viragem da sua
carreira, em que já passou por outras mudanças.